quinta-feira, 25/04/2024

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C&A estuda vender operação no País

Valor Econômico – Por Adriana Mattos e Mônica Scaramuzzo

A família Brenninkmeijer controladora da varejista de moda C&A, sediada na Holanda, considera vender sua posição na operação brasileira, como parte de um plano de concentrar os negócios na Europa, apurou o Valor.

Depois de ter se desfeito neste ano das operações na China e no México, os Brenninkmeijer, com 65% da varejista de moda no País, relataram a fundos estrangeiros de private equity que estariam abertos a analisar uma proposta pelo ativo no Brasil, listado em bolsa desde o fim de 2019.

No mercado financeiro, a venda das operações da C&A no Brasil não seria uma surpresa. Embora até o começo de outubro deste ano não existisse um mandato formal para a venda, a empresa tem prospectado o mercado por meio de contatos feitos pela matriz, testando interesse de fundos e grupos estratégicos, afirma fonte de um banco de investimento.

Uma segunda fonte diz que a perda de valor da empresa em bolsa, após a pandemia da covid-19, acabou desestimulando uma venda parcial em blocos de ações na bolsa ou a venda do controle neste ano. Mas já há uma recuperação no valor de mercado, e o interesse de negociar com fundos permanece.

“Em 2019, antes do IPO [oferta pública inicial de ações] já havia um interesse numa negociação de venda direta a algum investidor estrangeiro, mas isso não avançou na época por causa de preço e optaram pela oferta pública. Mas eles têm deixado claro a disposição em ouvir eventuais propostas. A intenção deles é ficar na Europa e concentrar investimentos em alguns países europeus mais rentáveis, como a Alemanha”, disse a fonte.

A empresa vem tentando buscar soluções para o negócio no País desde 2014, quando passou a considerar a ideia de se desfazer do braço local, apurou o Valor. Fundos de private equity e companhias concorrentes chegaram a analisar o ativo nos últimos anos, de acordo com pessoas a par do assunto. “O negócio ficou pequeno depois do IPO”, observa uma outra fonte. A C&A é a quarta maior varejista de moda do país, em número de lojas, e a terceira em receita, segundo relatório da Nord Research.

Em fevereiro deste ano a companhia vendeu a operação no México para a rede local de moda Axo. Poucos meses depois, em agosto, também se desfez dos negócios na China, para o fundo Beijing Zhongke Tongrong. Quando anunciou esta operação, Allan Leighton, chairman da C&A AG, ocupando a mais alta posição na rede, mencionou a operação brasileira em comunicado. “Como a C&A no Brasil e no México, sempre vimos a China como um mercado de crescimento chave para a C&A. Mas entendemos que a experiência local com uma rede forte era fundamental para liberar todo o potencial da C&A [na China]”.

A C&A opera em 18 países, a maioria na Europa. Nos mercados emergentes, controlava 100% das unidades no México e na China e, agora, sobrou apenas a participação majoritária no Brasil.

Com o IPO no país, as empresas da família (Cofra Investments e Incas S.A.) reduziram a posição de 100% na varejista para 65% e embolsaram quase R$ 814 milhões por meio da oferta de ações secundária (para o bolso dos sócios). A operação saiu no piso da faixa indicativa de preço da ação (R$ 16,50) e acabou sendo destaque, em parte, por causa da destinação dos recursos. Noventa por cento da oferta primária (recursos para o caixa da empresa) foi para pagar empréstimos de empresas do grupo da C&A e só 10% (cerca de R$ 80 milhões) para o plano de expansão, o que acabou gerando questionamentos de gestores e investidores sobre o real interesse dos atuais controladores em crescer no mercado brasileiro.

A varejista tem 288 lojas no país, com 550 mil metros quadrados de área de vendas e receita líquida neste ano, até junho, de R$ 1,2 bilhão. A líder do mercado, a Renner, tem 60% mais vendas (R$ 1,9 bilhão, excluindo as outras marcas do grupo), com um terço a mais de lojas (387) e quase 700 mil metros quadrados de área.

Desde agosto, o preço da ação na B3 vem mostrando recuperação. E uma valorização, com pagamento de prêmio sobre o preço, abriria terreno para a empresa avançar no plano de saída do país, apesar do cenário de incertezas para o varejo em 2021. O papel chegou a pouco mais de R$ 5 em março, no início da pandemia, e na sexta-feira fechou em R$ 12,80. Uma fonte observou que eventuais novos donos da varejista no País estariam sujeitos ao contrato de licenciamento da marca. E teriam que pagar royalties à matriz (em caso de dar lucro) – despesa que outras redes locais não têm.

A mudança de estratégia nos mercados emergentes acontece às vésperas da chegada de um novo comando global na C&A. Edward Brenninkmeijer, membro da família dos fundadores, deixará o cargo de CEO no final deste ano, informou a rede em agosto. Será sucedido em janeiro pela executiva Giny Boer (ex-Ikea). Segundo o “Financial Times”, Boer terá apoio para tocar um plano de fechamento de lojas deficitárias, focar no on-line e tentar uma virada nos resultados após a pandemia. Assim como outras redes de moda, a C&A foi afetada pela crise, e decidiu cortar custos para reduzir perdas. Procurada, a C&A diz que, “ não comenta rumores ou especulações de mercado”. Foto: Divulgação

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