sábado, 04/05/2024

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Almeida Prado na presidência

Desde cedo, nos bancos acadêmicos, na Universidade de São Paulo, o estudante de Engenharia Civil, André Alarcon de Almeida Prado, definiu sua carreira futura – iria ser um logístico. Ele, por exemplo, teve a oportunidade de fazer parte da primeira disciplina optativa de graduação em logística do Brasil, em 1995, e desde então começou a forjar uma trajetória de sucesso. Tanto que, aos 43 anos, acaba de assumir o cargo de CEO da BBM Logística, com o objetivo de construir um dos maiores operadores logísticos nacionais focado em contratos dedicados (DCC) e gestão de transporte (TM). Não à toa, anos atrás, foi escolhido pelo presidente da Abralog Pedro Francisco Moreira como um dos conselheiros consultivos da entidade.

Mestre em Sistemas Logísticos e Doutor em Transportes pela USP, André de Almeida Prado participou cursou o Global Supply Chain, no renomado Massachusetts Institute of Technology, o MIT. Na entrevista que se segue, ele fala dos percalços, obstáculos e oportunidades da logística brasileira, dá conselhos aos que iniciam e relembra o início da carreira vencedora.

Como vê no momento da logística no Brasil?
O primeiro ponto relevante é ressaltar a complexidade de se fazer logística no Brasil. A falta de infraestrutura geral do País, associada a uma cultura de não trabalhar sobre processos rígidos, dificulta de forma severa o trabalho de quem escolheu essa profissão. Os números dizem isso. Hoje, a quantidade de profissionais que realmente seguem na área de logística em cargos táticos e estratégicos ainda é menor que a própria demanda, isso pelas dificuldades encontradas e falta de atratividade do setor.

Dizem que da porta da fábrica para dentro vamos bem, mas…
O fato de a armazenagem e a intralogística estarem mais evoluídas que as demais áreas do segmento é natural, pois ambientes confinados permitem uma gestão mais visível e planejada. Quando falamos de distribuição e operações territoriais, seja inbound ou outbound, as complexidades aumentam demais. A CLT, associada a leis vigentes, restringe demais este tipo de operação e contribui para aumentar a ilegalidade, pois quem não respeita a lei tem muito mais facilidade para operar, o que me parece um enorme contrassenso.

Outro aspecto grave é a baixa exigência para a entrada de participantes. Quando não existem critérios de entrada, principalmente em momentos de crise econômica e forte gestão de redução de custos por parte dos embarcadores, diversos aventureiros participam do mercado, o que consequentemente derruba o nível de serviço e coloca em sérias dificuldades as empresas que trabalham com qualidade de serviço e níveis necessários de compliance. Infelizmente, esse é o exato momento que vivemos agora – os prestadores de serviços estão tendo extrema dificuldade e a consolidação do mercado será consequência do referido cenário.

Que reflexão você faz quando tem de pensar em infraestrutura?
Os eventos que vêm sendo apresentados pela mídia nos mostram a total falta de foco dos nossos governantes no desenvolvimento econômico estrutural do País. Não adianta, a longo prazo, alterar taxas de juros e câmbio quando se tem parque industrial pouco produtivo, sem investimentos e uma mão de obra sem a devida qualificação.

Nosso país hoje tem uma competitividade baixa, com custos altos de logística em consequência da falta de estrutura pública e baixo investimento dos participantes. A ineficiência logística atrapalha o Brasil por falhas de abastecimento ou fluxos racionais de movimentação. Enquanto infraestrutura e educação não evoluírem, o Brasil vai crescer (ou decrescer) por inércia global ou especulação. O que acontece é que não temos um fundamento econômico, principalmente industrial, estruturado, que permita crescer acima da economia global. Isso acontece, principalmente, pela falta dos itens citados que geram perda global de competitividade. A China e Índia são exemplos de países competitivos, que conseguem crescer mais que a economia mundial.

Você acredita que multimodalidade e infraestrutura mudariam o cenário econômico do Brasil?
Não existe nenhuma dúvida, nenhuma. Logística é baseada em eficazes e eficientes soluções, e cada problema tem sua solução específica. Se um ambiente é capaz de desenvolver o melhor modelo operacional, utilizando os modais adequados, menos etapas logísticas e mais eficiência , melhores custos e melhor nível de serviço serão as consequências.

Em termos de multimodalidade, o que precisa ser feito?
Explorar esse País continental, suas potencialidades, desenvolver projetos de infraestrutura e operações em todos os modais possíveis. Globalmente, existe hoje capital disponível para bons projetos, só precisamos viabiliza-los. E o grande entrave para esses projetos saírem do papel é o próprio governo, pois a burocracia e a corrupção em todos os níveis limitam essa entrada de capital e a consequente evolução do Brasil. Precisamos criar um ambiente que aumente a competitividade do País. É menos uma questão temporal e mais efetivas parcerias público-privadas, porque o dinheiro está totalmente disponível para projetos viáveis.

Que conselhos você daria para novos profissionais que gostariam de seguir a carreira em logística?
Logística é engenharia, portanto, uma área que exige habilitação técnica. Da mesma forma que um enfermeiro, e até mesmo um médico de outra especialidade não podem fazer uma cirurgia cardíaca, um profissional sem a devida qualificação não deveria trabalhar com logística. Faça o que você ama, porque você se dedicará e será bom nisso. Portanto, se você ama logística, tiver dedicação, obter especialização e, obviamente, for competente, será altamente provável que em médio prazo você alcance uma sólida e rentável carreira.

E o começo, como foi?
Comecei minha carreira na Rede Gazeta, que representa a Globo no ES. Os produtos impressos são industrias que possuem um dos menores lead-times existentes, pois o produto físico perde consumo em ciclos muito curtos de tempo e tive um grande aprendizado sobre a importância da agilidade e dos processos para uma boa rede logística. Posteriormente, fiquei quase quatro anos na área comercial da Rede Renault/Nissan e mesmo com um relevante desenvolvimento, optei por retornar para a área de logística por acreditar no seu futuro.

Como foi esse retorno para a logística?
Foi na Atlas Transporte e Logística, e lá tive a oportunidade de trabalhar por mais de 10 anos em uma das maiores e melhores empresas de armazenagem e transporte do Brasil. Dirigi as áreas de novos negócios, comercial, operacional e projetos. Esse histórico de longevidade e a oportunidade de conviver com grandes mestres me aprimoraram para desafios ainda maiores.

A Atlas foi adquirida pela Femsa, como foi essa experiência?
Trabalhei por dois anos em uma das maiores empresas da América Latina, que está investindo para se tornar o maior prestador de serviço em logística da região. Apoiei o processo de aquisição e desenvolvimento do negócio na América Latina. Foi um grande momento!

Você também tem auxiliado governos e associações…
Nesse período, participei do desenvolvimento de trabalhos públicos relativos à logística, como o Plano Diretor de Logística e Transportes (PDLT), do Estado de São Paulo e o Plano de Excelência em Logística e Cargas (PELC), do Estado do Rio de Janeiro. Tenho a maior satisfação em participar de projetos assim. Acho que é até um dever com a logística e com o País.

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