terça-feira, 23/04/2024

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Presidente da Abralog entrevistado no site da associação francesa Afilog

A logística do Brasil entre resiliência e transformação

Durante sua visita ao SITL 2022, Pedro Moreira, presidente da Abralog, fez um relato sobre o setor logístico brasileiro, emergindo da pandemia de Covid-19, e em um contexto internacional adverso. Ele destacou a oportunidade de discutir sinergias com os seus companheiros franceses da Afilog https:\/\/www.abralog.com.br//abralog.agenciahypelab.com.br//www.afilog.org/, a situação global, e também os painéis fotovoltaicos nos armazéns.

Qual a participação da logística na economia brasileira?

A logística representa aproximadamente 12,5% do PIB brasileiro, o que é uma proporção satisfatória quando sabemos que está em torno de 10% na Europa e 8% nos Estados Unidos. Mas este valor também se explica pelas nossas deficiências e pelas despesas que geram uma rede de transportes desequilibrada: 61,1% da nossa atividade opera por rodovias, seguindo-se as ferrovias (20,7%), hidrovias (13,6%), oleodutos (4,2%) e aéreo (0,4%). Não temos uma rede ferroviária bem desenvolvida, e ainda fazemos pouco uso do transporte fluvial ou ao longo do nosso vasto litoral. A prática da multimodalidade ainda está longe. Todos esses fatores levam ao aumento dos tempos de trânsito e do estoque, que criam gargalos e aumentam os custos logísticos.

Por muitos anos, sucessivos governos lançaram planos de logística e infraestrutura de curto prazo, que estavam em constante mudança. Mas o ex-ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, e seu sucessor, o atual ministro Marcelo Sampaio, fizeram a diferença. Foi implementado um plano de infraestrutura real, sólido e de longo prazo. Desde 2019, o Brasil privatizou 81 ativos, incluindo portos, aeroportos e estradas, gerando mais de US$ 20 bilhões em investimentos. E tudo isso continuou apesar da pandemia, o que é notável. Mas devemos continuar a aplicação adequada deste plano e seu ritmo de execução. Graças a isso, o Brasil está a caminho de ter uma infraestrutura de transporte bem desenvolvida e equilibrada nos próximos anos.

Como a logística brasileira superou a crise do Covid-19 e que lições resultaram, dois anos depois?

Cidade de São Paulo

Aprendemos muito com esta pandemia, que teve um efeito revelador: as empresas que souberam se adaptar conseguiram se reinventar e superar a crise. No Brasil não tivemos nenhuma interrupção na cadeia de suprimentos durante a pandemia, o que é muito satisfatório, porque historicamente não tínhamos uma cultura de colaboração muito desenvolvida, as empresas relutavam em trocar informações. Mas a pandemia virou tudo isso de cabeça para baixo e agora os concorrentes estão negociando muito mais entre si para evitar colapsos.

A pandemia também acelerou a mudança para a digitalização. Antes, muitas empresas tinham uma agenda de cinco anos nesta área. Agora,  elas sabem que precisam ser capazes de olhar apenas seis ou 12 meses à frente, o que é uma grande mudança. Outro número também ilustra essa profunda mudança: antes da Covid-19, o comércio eletrônico representava 5% do comércio brasileiro. De 2019 a 2021, esse número triplicou, chegando a quase 15%, e as previsões evocam 25% para os próximos anos, o que é enorme.

Quais poderiam ser as consequências da situação atual da Ucrânia na logística brasileira e, de forma mais geral, na América Latina?

O cenário que vivemos tem causado rupturas nas cadeias de abastecimento. Isso não diz respeito apenas às organizações no Brasil, mas em todo o mundo. Estamos vendo atrasos e prazos de entrega mais longos, falta de fornecimento, falta de visibilidade, volatilidade de preços, etc. Isso incentiva as empresas a se reposicionar em cadeias de suprimentos mais regionais. O Brasil sabe o quanto é importante se aproximar de outros países da América Latina, Estados Unidos e Europa para evitar desabastecimento. Veja o caso da Rússia, maior produtor mundial de fertilizantes, sendo que o agronegócio responde por 35% do nosso PIB. Portanto, o risco de desabastecimento para os próximos meses é real. São consequências globais que não poupam o Brasil, e obviamente temos que nos preocupar com elas.

Quantos metros quadrados de painéis fotovoltaicos estão instalados nos armazéns brasileiros?

De um total de 20 milhões de metros quadrados de armazéns classe A, menos de 10% estão hoje equipados com painéis fotovoltaicos. Embora o Brasil seja autossuficiente em energia, vive sua pior crise hídrica em 90 anos, o que elevou o preço da eletricidade. A eletricidade da rede pode representar até 25% do custo total dos armazéns, o que incentiva as empresas a recorrer a outras alternativas, como solar e eólica, que estão em forte desenvolvimento. A parcela de painéis fotovoltaicos instalados nos armazéns brasileiros ainda é baixa, mas novos projetos já incluem esse componente.

GLP, Louveira-SP

A lenta transição é explicada pelo custo dos painéis e baterias de lítio, o que ainda não permite rentabilizar o armazenamento de eletricidade. Além disso, somos dependentes das importações de lítio da China, cuja disponibilidade é escassa e sujeita a altas taxas de importação. No entanto, a capacidade das baterias de íons de lítio pode aumentar mais de cinco vezes até 2030, o que ajudará a reduzir custos, melhorar o retorno do investimento e acelerar a expansão da energia solar. Em um país como o Brasil, que goza de uma insolação muito alta, os painéis fotovoltaicos nos telhados dos armazéns oferecem grandes possibilidades que devemos saber explorar a médio e longo prazo.

Um ano e meio após a parceria firmada entre Afilog e Abralog, que lições você tira dessa colaboração e seus benefícios para ambas as associações?

A Afilog e a Abralog se conhecem há muito tempo, graças a vários encontros anuais no SITL. Começamos a conversar com mais regularidade durante a pandemia para identificar como unir nossos esforços e criar uma melhor colaboração logística. Acho que a França desenvolveu muito boas práticas em termos de logística, principalmente urbana, e esse é um modelo que também gostaríamos de adotar. O Brasil representa um grande potencial para a França em termos de investimentos em imóveis e tecnologia, etc.

Quais são os pontos comuns da logística urbana entre a França e o Brasil e como os dois países podem aprender com suas respectivas experiências?

A França apresenta, sem dúvida, modelos eficientes de logística urbana nos quais devemos nos inspirar. Na região metropolitana de Paris, vemos terminais urbanos, com conexões ferroviárias e fluviais que facilitam muito as transferências, abastecimento de lojas e distribuição de última milha, que não temos em nossas regiões metropolitanas.

Acredito que as duas associações podem construir juntas um forte programa comum, compartilhando seus conhecimentos e práticas para gerar novas oportunidades para seus associados. Já organizamos vários webinars, com o objetivo de realizar estudos comparativos, por exemplo sobre energias renováveis: podemos avaliar as experiências, as diferenças, e levar essas lições em consideração para implementar soluções adequadas. Também criaremos delegações que visitarão os dois países.

Fotos: Divulgação Afilog

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