sábado, 20/04/2024

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Rodolfo Giotto, da Pirelli América do Norte, foi o convidado do núcleo Abralog-EUA 

A segunda reunião do Núcleo Brasil-EUA, na sexta-feira, 17 de novembro de 2023, em Miami, teve como convidado o brasileiro Rodolfo Giotto, Diretor Regional da Pirelli para a América do Norte. Giotto é paulistano e está na fabricante de pneus há 11 anos. O encontro ocorreu na sede da Invent, sócia-apoiadora da Abralog, cujas instalações ficam no Brickell, centro financeiro da cidade.

O Núcleo Brasil-EUA, o primeiro fora do País, é ponto de partida para o esforço que a entidade inicia rumo a sua internacionalização. Esse caminho tem a finalidade de aproximar a logística brasileira dos principais centros de excelência, como os Estados Unidos, onde há grande quantidade de logísticos trabalhando em empresas de porte mundial.

Rodolfo Giotto é formado em Administração pela USP, e é, como informou, “um engenheiro pela Unicamp, não formado”, pois não completou o curso. Há cinco anos trabalhando na América, o executivo passou por grandes impactos na carreira. O primeiro foi a chegada de um brasileiro para reorganizar métodos, a equipe e processos de gestão de fornecedor. O segundo, foi a pandemia, e por último teve pela frente a pandemia.

O núcleo Brasil – USA tem reuniões bimestrais e a próxima será em janeiro de /2024. A segunda reunião foi moderada por Pedro Moreira, presidente da Abralog, que fez a abertura do encontro, juntamente com o anfitrião, Leonardo Araki, CEO da Invent. Além do depoimento de Rodolfo Giotto, a reunião teve debates durante a fala de Giotto.

Participaram das discussões Marcelo Arantes, Chief Supply Chain Officer na Leroy Merlin; João Paes de Almeida, Senior Director Supply Chain da Kenvue;  Rubens Romano, Head of Renewable Energy, da Gerdau Next North America; Cláudio Barbieri da Cunha, da Poli-USP, atualmente lecionando na Califórnia; Pedro Moreira Filho, Manager Invent North America; José Paulo Pereira, Fundador da Pandalog Consulting; André Bolpet, Gerente de Planejamento Logístico da Ri Happy; e Elvis Camilo, Head of BPO Logistics Operations Brazil do Gi Group.

Trechos dos debates ocorridos durante
a reunião do Núcleo Abralog-EUA, em Miami:

Falta de integração entre os elos da cadeia de suprimentos
√ Um dos grandes problemas globais da logística é a falta de integração entre os elos da cadeia de suprimentos, tanto vertical como horizontal. Falamos em ociosidade na cadeia e falta de colaboração logística há um bom tempo. É preciso buscar complementaridade entre as operações, evitando redundâncias, sobreposição de fluxos. A liderança é elemento fundamental para impulsionar o processo colaborativo. Pedro Moreira, presidente da Abralog.

√ A colaboração em logística ainda é muito mais um desejo que uma realidade. Muito por causa da nossa dinâmica comercial, focada em esconder as informações. Vejo que nós temos um desafio cultural e estrutural muito grande para vencer. Eu, durante meus oito anos de GPA, tentei por várias vezes avançar nesse caminho – alguns poucos fornecedores você consegue desenvolver, mas só até o momento em que a água começa a bater no nariz, o senso de autopreservação. A startup LogShare, está mostrando, com sucesso, uma nova direção. O modelo de negócios dela é justamente disponibilizar para vários players cargas e veículos. Hoje tem como clientes gigantes do mercado. Você vê que esse modelo de colaboração inicia a entrada no elo independente, começando a aparecer algumas oportunidades que terceiras partes começam a pegar. Já  a colaboração direta entre indústria e varejo fica para trás por causa dessa dinâmica comercial de que falei. Marcelo Arantes, Supply Chain Officer da Leroy Merlin

Inovando e criando tecnologia logística
√ A Gerdau Next, braço de inovação e tecnologia volta para a logística, investiu em três iniciativas logísticas para trazer expertise para o core da Gerdau. Esses investimentos incluem a G2L, operador logístico do grupo Gerdau, a plataforma Vector, que conecta carriers e shippers com tecnologia agregada, e a Adiante, uma empresa resultante do investimento conjunto entre Gerdau e Randon, focada em logística direta. O objetivo é integrar essa expertise ao funcionamento da empresa. A visão é que a Gerdau, como grande player, deve focar em logística e inovação, área em que a Gerdau Next concentra seus esforços. A intenção é trazer tecnologia para melhorar eficiência, produtividade e solucionar problemas na cadeia de entregas do grupo. A Gerdau Next busca trazer suas práticas e oportunidades para a Gerdau, não apenas como investimento, mas para implementar efetivamente iniciativas logísticas. Rubens Romano, Head of Renewable Energy, da Gerdau Next North America.

A difícil retenção de talentos em TI
√ No varejo aqui no Brasil a gente tem uma uma grande dificuldade em reter talentos da área de tecnologia, porque é um mercado muito dinâmico. Quem você acha disponível no mercado quer fazer 100% home office, ganhando uma fortuna. Aí, acabamos criando os nossos Frankensteins – vai fazendo um puxadinho aqui, outro ali, vai montando aquele robozinho que funciona mais ou menos para um lado, mais ou menos para o outro… Acabamos perdendo um pouco de oportunidade em termos de produtividade. André Bolpet, Gerente de Planejamento Logístico da Ri Happy

√ O mercado de TI está extremamente inflacionado. Um desenvolvedor quer ganhar R$ 25 mil, trabalhar de casa e faturar por dia. Esse é o desafio. E aí quando você fala do varejo… varejo, não é glamuroso. Eu acho que quem nasceu com isso foi o Meli, mas não vejo a Meli como varejista, nem como operador logístico. O suporte deles é a tecnologia. Os caras desenvolveram, essa é a raiz deles. Então eles estão lá e são efetivamente os que sabem o código fonte. Estão milionários porque são acionistas de um negócio. Aí você consegue reter o cara e consegue reter o conhecimento. O desafio que eu encontrei no Pão de Açúcar, o desafio que eu encontro aqui na Leroy Merlin, é você pegar uma empresa  que foi crescendo com a cultura de um retalho aqui, outro retalho ali… para você fazer qualquer modificação há tanta interferência que te coloca na defensiva total. Acho que vamos ter de esperar um pouco – como esse mercado está muito aquecido, tem muita gente se formando. Daqui a pouco você vai ter sobreoferta de profissionais, aí eu acho que volta a normalidade. Marcelo Arantes, Supply Chain Officer da Leroy Merlin

√ A dificuldade é que os especialistas hoje tem 20 anos de experiência e os jovens não estão acompanhando. E aí eu falo não só de TI, mas de várias áreas aqui, principalmente na logística. Estamos sendo muito procurados para trazer pessoas com a expertise desenvolvida. E existe uma concorrência muito grande, e o pessoal pede salário absurdamente alto; porque tem demanda. Querem, principalmente, com home office – esses profissionais não querem mais estar no formato presencial, e suas responsabilidades não necessariamente requerem estar presencial. Só que em empresas de logística essa questão de trabalhar em casa vem acabando, mas algumas ainda mantêm os profissionais de TI ou Office, justamente por não perder o profissional. Então é um mercado que está muito acirrado agora. A situação se repete no recrutamento e seleção de profissionais para logística, tanto profissionais C-level quanto o pessoal mais técnico. Há empresas que pagam, porque estão perdendo por justamente por não ter esse profissional. Também falta motorista de caminhão, e aí é a tecnologia embarcada que está afugentando os candidatos. E quem está empregado ganha bem e não quer sair. Elvis Camilo,Head of BPO Logistics Operations Brazil do Gi Group.

√ Essa é uma preocupação grande. A gente defende muito a terceirização, o 3PL, aquela história da empresa focar na atividade fim e passar para terceiros especialistas atividades como armazenagem, gestão dos estoques, transporte, distribuição etc. Mas ainda vemos boa parcela deles com grande resistência às boas práticas. É aquela queda de braço. E às vezes a impressão é que essa parcela está preocupada em adicionar mais recursos (empilhadeiras, mais man power) para aumentar a receita. E aí, se esquece de processo, de tecnologia, de automação, de racionalização… Então, essa é uma realidade que temos observado no Brasil em uma parcela dos Operadores. Não estamos generalizando, mas precisamos eliminar essa barreira. Porque todos ganham. Há que destacar a existência de Operadores com ótimas praticas nesse sentido. Mas precisamos de muito mais deles com essa visão. Pedro Moreira, Presidente de Abralog.

√ Percebe-se nitidamente existir política corporativista. Certa vez fomos chamados para fazer um retrofit num cliente que já tinha automação fornecida, que inclusive havia propiciado resultados. Ocorre que percebemos haver ainda muito mais a lucrar, e o cliente percebeu que o próprio operador tinha muita resistência para avançar nisso. Nós entramos e conseguimos ainda reduzir 40%, não só de head count, mas sobre a sustentabilidade na melhoria operacional. Leonardo Araki, CEO da Invent.

O exemplo da Abralog
√ Essa reunião do núcleo Abralog-EUA é muito importante, pois há oportunidades gigantescas aqui na América, e é muito bom ver a Abralog  provocando essas discussões, porque eu não tenho dúvidas: os brasileiros vão poder trazer para cá muitas boas práticas, e levar de volta na bagagem também outras tantas. João Paulo Pereira, Fundador da Pandalog Consulting.

√ Eu gosto muito dos trabalhos que a gente faz com a Abralog, e quem não tem essa experiência, encorajo participar dos grupos. Nós tocamos comitê que discutiu a Lei dos Motoristas, anos atrás, no Brasil, e é um ambiente bacana, de pessoas com conhecimento técnico enorme, de empresas diferentes e com culturas diferentes, com debates, ideias e argumentos. Rodolfo Girotto, Diretor Regional da Pirelli na América do Norte.

√ Muito feliz com essa agenda internacional da Abralog, que está dando passos importantes como esse, pois Estados Unidos e Brasil têm muitas coisas em comum, e essa aproximação é relevante para ser acompanhada Marlos Tavares, CEO da G2L.

Eletrificação.
√ A eletrificação tem aumentado nos Estados Unidos, mas é uma conversa muito urbana ainda. O elétrico ainda é muito urbana, de distribuição local, até pela  necessidade de investimento na malha de energia de abastecimento, que vai levar muito tempo para mudar. Rodolfo Girotto, Diretor Regional da Pirelli na América do Norte.

Eu me faço a pergunta se o híbrido de gás e o híbrido elétrico do Brasil não têm chance de fazer uma conversão mais rápida do que outros países do mundo? Principalmente pela concentração que a gente tem de qualidade de gás e eletricidade no Sudeste? Mas é interessante ver que os Estados Unidos ainda não aceleraram essa mudança. Lá na Cargill, eu passei 15 anos pensando na eletrificação do agro, mas era um horizonte distante mesmo. Quando ocorreu a greve de portos da Costa Oeste, com falta de caminhoneiros e tudo mais, isso aí foi julgado para o fim da fila. João Paes de Almeida, Senior Director Supply Chain da Kenvue.

A parte urbana da eletrificação já chegou. Hoje você vê grandes players aí, como Amazon, passeando para todo lado. Naturalmente, isso requer uma infraestrutura, especialmente para longa distância, que ainda não existe, e é um investimento brutal para ter isso rodando de forma massiva. Mas, é uma das apostas aqui que a gente acredita. Sem dúvida vão começar a existir oportunidades no mercado. De toda a cadeia logística, a eletrificação é algo que eu penso como inevitável. A gente vê muita promessa principalmente de transporte sem motorista, algo que deverá chegar associado à cadeia elétrica.  Rubens Romano, Head of Renewable Energy, da Gerdau Next North America.

√ O pneu é parte importantíssima da eletrificação, porque é a única parte do veículo que toca o chão. A eletrificação muda completamente a dinâmica do veículo, seja ele carro, seja ele caminhão. Tanto que, a ausência de ruído de motor nos veículos elétricos, faz com que exista uma manta de esponja dentro dos pneus para reduzir o impacto do ruído do pneu no solo. Rodolfo Girotto, Diretor Regional da Pirelli para a América do Norte.

√ A questão de transição energética é muito relevante. Estou cumprindo programa na Universidade da Califórnia, em Davis, onde eles têm um grupo de transporte sustentável muito grande. São 70 pesquisadores-doutores e 120 alunos em movimento, algo como US$ 27 milhões  por ano de recursos de empresas. Cláudio Barbieri da Cunha, professor da Poli-USP.

Fotos: Divulgação

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